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Escritor, poeta, sobrevivente! Morador de rua, uma pessoa incrível que nos tem muito a ensinar...

CONHECENDO RAIMUNDO

Um dia eu vi um homem em um canteiro, numa rua de uma das maiores cidades do mundo: São Paulo!

E ele estava no seu mundo! Tanto barulho, tantas buzinas. São Paulo atordoa! 

E lá estava ele, sentado, tranqüilo, sereno.. escrevendo…

Após passar por ele algumas vezes, resolvi atravessar a rua, numa tentativa de cumprimentá-lo e, com isso, quem sabe iniciar um diálogo.

Dei bom dia e vi um sorriso seguido de “quer ganhar uma folhinha de papel?”.

Era o que eu precisava para então, finalmente, chegar perto dele. 

Ele tinha algo mais, que eu percebi desde a primeira vez que o vi... Era intrigante como poderia estar ali, tão natural, em um contexto tão diverso.

E assim foi a primeira vez que falei com Raimundo! Recebemos seu “papel” e, após agradecer e olhar-lhe nos olhos, li em voz alta:

“Ofertas, Gestos Oferta
Gestos, Páginas Autografadas.

Ponte 2
Que é o interesse do leitor,
Pela vida do autor que ele leu?
E dos demais consumidores de tudo
Que o homem fez?

Ass. O condicionado
SP 4 – 4 – 1999 + 13 (c)

Como é integrado este homem que se apresenta tão sereno e firme diante de tantas adversidades? Quem é o homem por trás deste "avatar"? E logo perguntei seu nome.

"Raimundo Arruda Sobrinho", disse ele!

Muito prazer, eu sou Shalla e este é o Ignacio. Que bom te conhecer! O que você escreve é muito profundo e interessante.

O que são as suas páginas autografadas?

“São mini páginas, pedacinhos de papel que não tem nenhum valor, feito por mendigo para presentear, mas não tem valor nenhum”.

E porque você assina como “O Condicionado”?

“Porque estou em numa condição que nada posso fazer, aqui neste lugar desde 96, no mesmo lugar, e nas ruas desde 78. Um homem nas minhas condições não é humano, é animal irracional, que não presta para nada, não vou a lugar nenhum... Estou alejado das pernas e antes andava curvado, como um animal que sou...

Um homem que não tem estudo, que não tem nada, não tem valor nenhum..”

Mas este homem é muito talentoso e simpático, logo retruquei!  Posso vir conversar com você mais vezes? Eu já tinha visto você, mas não queria incomodá-lo, mas agora que nos conhecemos eu gostaria de te visitar.

“Ah, pode vir, faça o que quiser, o que tiver vontade! Estarei sempre aqui, muito agradecido..”

Perguntei se ele já tinha almoçado e ele disse que não me preocupasse com isso, que ele não precisava de nada.

E nos despedimos! 

3 comentários:

  1. Nossa. Chorei muito ao ler sobre este caso. Vi o post no globo.com e fui conferir. Eu já tinha visto ele pelas ruas,inclusive escrevendo estas "mini páginas", mas naquela nossa vida corrida de paulistano cheio de obrigações a cumprir em tão pouco tempo nunca dei muita atenção. Minhas lágrimas são de emoção pela estória e de felicidade por ele ter se deparado com um anjo aqui na terra. Parabéns Shalla, vc merece todo nosso carinho e também um prêmio nobel. Saudações. Diranildo Gomes da Silva / Contabilista

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  2. Isso tudo é muito lindo!!!! Me emocionei! E saiba que vendo gente como você e muitas outras que conhecemos, ajudando crianças, pegando animais na rua, tratando de idosos, moradores de rua, doentes...esses trabalhos que não terão retorno financeiro,me faz acreditar que realmente Deus existe e somos instrumentos dele!
    Parabéns e fique com Deus!

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  3. As vezes deixamos de dar atenção ao que verdadeiramente interessa.

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